António Ponte
Diretor Regional de Cultura do Norte
Em Portugal a expansão da arquitetura românica coincide com o reinado de D. Afonso Henriques, época em que foram iniciadas as obras das Sés de Lisboa, de Coimbra e do Porto e que se construiu o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Arquitetura marcadamente de índole religiosa, o românico está intimamente relacionado com a organização eclesiástica diocesana e paroquial, e com os diversos mosteiros e conventos fundados ou reconstruídos nos séculos XII e XIII. De realçar que em Portugal a época românica é contemporânea do período em que se estrutura o seu habitat, com as freguesias e toda uma organização religiosa e vicinal. Mais do que corresponder à Reconquista, a expansão do estilo românico corresponde, essencialmente, à organização do território. Nos séculos XII e XIII surgem novas paróquias que, de modo geral no Entre-Douro-e-Minho, são delimitadas pelos cumes das elevações que as cercam, por velhos caminhos e pelas vias fluviais mais importantes. As comunidades rurais organizam-se à volta de uma igreja, com o seu espaço dedicado ao cemitério. A igreja é o pólo sacralizador de todo o espaço da freguesia. Simbolicamente ela é uma cidadela contra o mal porque guarda os santos com as suas relíquias invencíveis, triunfantes e gloriosas. Aí se concentram as cerimónias que asseguram a proteção de Deus e dos santos. Como já expressou C. A. Ferreira de Almeida, a arquitetura românica portuguesa mais do que em qualquer outra região, tem de ser apreciada in situ. Só inserida na paisagem e no habitat local ela é verdadeiramente compreensível e rica de ensinamentos.
A arquitetura românica encontra-se na primeira linha dos monumentos cujo restauro obedeceu aos critérios da restauração material da Nação, conforme detalha a tese Monumentos Nacionais; orientação técnica a seguir no seu restauro (1935), orientação que tinha por objetivo subtrair os monumentos aos atentados cometidos durante os séculos XVII e XVIII.
A arquitetura românica, lida à luz da categoria património cultural, é uma força do maior significado para a Europa do século XXI – o património cultural ele é um capital essencial da Europa. Se assim é, o paradigma das atividades culturais enquanto “custo” para a sociedade está em mudança. As mais-valias económicas do património cultural têm vindo a ser, mais comummente, perspetivadas em termos de turismo, mas também enquanto uma força de inovação e estímulo para o crescimento e emprego num vasto leque de indústrias, assim tradicionais como tradicionais. Igualmente, o património cultural é reconhecido como fator de coesão social, desenvolvimento do “sentido de comunidade” e envolvimento com o ambiente. Contudo, esta visão – positiva e estimulante – sobre o património cultural, não colhe ainda a amplitude dos consensos necessários para que, através do uso inovador do património cultural, se progrida em ordem aos objetivos do crescimento económico, coesão social e sustentabilidade ambiental.
Neste contexto específico, o trabalho desenvolvido pela Rota do Românico assume um carácter exemplar enquanto veículo de concretização dos 3 Rs do património cultural – regenerar, renovar e renascer.