Egas Moniz – O Aio
Egas Moniz de Ribadouro, nasceu nos anos 70 do século XI e pertencia a uma importante família do território do Ribadouro. Naquela altura era normal as crianças régias serem educada junto de famílias nobres que se tornavam seus aios. Egas Moniz foi assim aio de D. Afonso Henriques que viria a ser o primeiro rei de Portugal.
Trata-se de uma personagem muitíssimo interessante, cuja vida está envolta em lendas e histórias de honra e dedicação. Não sabemos se verídicas ou não, no entanto, fazem parte da nossa memória coletiva que convém preservar e perpetuar.
Uma das lendas reza que D. Afonso Henriques tinha nascido com graves defeitos físicos, nomeadamente uma deficiência das pernas. No entanto, Egas Moniz criou a criança com todo o carinho e dedicação esperando sempre encontrar uma cura para os seus problemas. Assim, uma noite, Nossa Senhora apareceu em sonhos a Egas Moniz e pediu-lhe que fosse a um determinado lugar escavar e terminar uma Igreja que teria sido começada em honra dela. Após a construção da Igreja, colocou o jovem Afonso no altar e milagrosamente este ficou imediatamente curado dos seus problemas físicos. Esta igreja corresponde hoje ao Mosteiro de Santa Maria de Cárquere (Resende).
Outra versão da lenda, conta que D. Afonso Henriques nunca teria melhorado das suas deficiências tendo acabado por falecer. Então, Egas Moniz combinou com D. Henrique, o pai da falecida criança, trocar a criança morta por um dos filhos de Egas Moniz que tinha a mesma idade, de forma a que este pudesse ter um herdeiro forte e capaz de lhe suceder como valente chefe militar.
Esta história, seria para muitos a explicação para a atitude tomada por Egas Moniz anos mais tarde. Assim reza que, as várias tentativas independentistas do jovem Afonso Henriques, enfureceram o seu primo D. Afonso VII, rei de Castela, a quem o Condado Portucalense devia vassalagem. Assim, em 1127, o exército do rei avança sobre o norte de Portugal e manda fazer um cerco a Guimarães.
Apesar da fome e do cansaço, Afonso Henriques recusa a render-se, mas autoriza Egas Moniz a negociar a paz com o seu primo. Destas negociações resultou que Afonso Henriques comprometia-se a manter submissão e obediência ao reino de Leão, permitindo assim o levantamento do cerco.
No entanto, passado um ano D. Afonso Henriques quebra a promessa feita e invade a Galiza. A tradição conta, então, que Egas Moniz sendo um homem de honra, vai até Toledo acompanhado da sua família e apresenta-se ao rei com uma corda ao pescoço pondo a sua vida e a dos seus a disposição, como preço a pagar pelo compromisso quebrado.
O rei, então, comovido com tamanha honra, perdoa Egas Moniz e manda-o de volta ao Condado Portucalense. Não existe nenhum documento conhecido atestando da veracidade deste episódio. No entanto, toda esta narrativa está esculpida no túmulo de Egas Moniz que se encontra no Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, o que para alguns historiadores é a prova como a história tem pelo menos um fundo de verdade.
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Mafalda Sanches – A Beata
Outra personagem profundamente ligada ao território do Vale do Sousa é a Rainha Beata Mafalda. Filha de D. Sancho I, segundo rei de Portugal receberá o nome da sua avó a rainha D. Mafalda de Saboia, mulher de D. Afonso Henriques. D. Mafalda teria nascido entre 1195 e 1196, em Amarante. Cedo foi entregue aos cuidados da sua ama D. Urraca Viegas, filha de Egas Moniz, e recebeu uma educação muito próxima daquela que tinha já sido transmitida ao seu avô. Por volta dos onze anos, junta-se às irmãs – Teresa e Sancha – no Mosteiro de Lorvão, agradando-lhe a vida de devoção a Deus segundo as regras de Cister.
Quando em 1211, D. Afonso II, O Gordo, irmão de D. Mafalda ascende ao trono termina a tranquilidade da jovem princesa. O rei põe em causa os domínios deixados às suas três irmãs pelo pai D. Sancho I. Esta questão acabou por transformar-se numa autêntica guerra civil entre os irmãos, que contribuiu para que a princesa D. Mafalda optasse por uma vida religiosa.
No entanto, a morte do D. Afonso VIII de Castela veio novamente arruinar os planos da princesa. Assim D. Afonso II viu uma oportunidade de aliança com Castela ao casar D. Mafalda com D. Henrique I o novo rei, mas ainda uma criança com apenas 12 anos de idade. D. Mafalda, então com 19 anos, não podendo negar as suas obrigações viu-se forçada a contrair matrimónio com o jovem rei de Castela.
Porém, antes de o casamento ter sido consumado, foi feito um pedido de anulação do mesmo por D. Berengária, irmã de D. Henrique I, que pretendia que o irmão casasse com outra pretendente. A razão da anulação apresentada ao papa Inocêncio III seria a proximidade de parentesco entre os noivos, pois estes eram primos. Mas antes que a decisão fosse tomada, D. Henrique I falece acidentalmente em 1217, ficando o casamento “dissolvido por Deus”. Mafalda livre do casamento pode voltar a Portugal e dedicar-se à religiosidade e à caridade mantendo, no entanto, o título de Rainha de Castela.
Mal regressa, estabelece um plano de reestruturação para o Mosteiro de Arouca e em 1224 obtém a autorização para substituir nele a ordem beneditina pela de Cister. O mesmo acontece, em 1230, com o mosteiro de Bouças que passa igualmente de beneditino para cisterciense. D. Mafalda leva assim uma vida austera dedicada à oração, meditação e penitência mas é ainda detentora de um vasto património graças a heranças e doações dos seus pais e da família da sua ama D. Urraca Viegas que a educou e a amava como uma filha.
Dos seus pais herdou o Mosteiro de Bouças e o de Arouca, assim como várias propriedades da sua falecida mãe. Da família dos Ribadouro recebeu, entre outros, as paróquias e honras de São Salvador de Aveleda e Santa Cristina de Nogueira (Lousada), as paróquias honradas e igrejas de São Tomé de Bitarães e São Cristóvão de Louredo, a honra de São Pedro de Gondalães (Aguiar de Sousa) assim como, as honras de Tomé de Canas, de Santiago de Louredo, de Santa Marta do Castro e de S. Martinho de Moazares (Penafiel).
Ao longo da sua vida D. Mafalda sempre soube aplicar a sua imensa fortuna na ajuda dos pobres e desafortunados. Promoveu a fixação das populações mandando erguer pontes e igrejas e promovendo a agricultura, a pesca e a pastorícia. Entre as Igrejas que mandou construir é lhe atribuída a Igreja da Cabeça Santa, em Penafiel, devida à devoção que a infante tinha pela relíquia (um crânio) que aí se encontrava. É igualmente tida como fundadora da Igreja de São Pedro de Abragão e de São Gens de Boelhe, se bem que a construção desta última é por vezes também atribuída à avó, D. Mafalda de Saboia.
A importância desta Rainha para o Vale de Sousa deve-se igualmente às doações que está deixou em testamento nomeadamente ao Mosteiro de Paço de Sousa e de Vila Pouca do Bispo.
D. Mafalda teria encontrado a morte em 1257, quando regressava de Rio Tinto, após uma peregrinação à Nossa Senhora da Silva, na sé do Porto. Reza a lenda que houve uma disputa entre as povoações de Rio Tinto e Arouca para se saber onde seria sepultada. A solução encontrada para a discórdia foi colocar o caixão em cima da mula onde a Rainha costumava viajar e esta seria sepultada no local onde se dirigiria o animal. A mula não teve dúvidas e parou somente junto do altar de São Pedro, na Igreja do Mosteiro de Arouca.
Em 1616, o seu túmulo foi aberto e seu corpo encontrado incorrupto. São-lhe atribuído, igualmente, alguns milagres como aquando de um incêndio, pouco depois da sua morte, no Mosteiro de Arouca, foi vista pelas freiras a apagar as chamas com o sinal da cruz, possibilitando o salvamento de todos os doentes e internados.
Perante isso e uma vida dedicada ao próximo e a Deus, digna de uma Santa, iniciou-se um longo processo que culminou na beatificação de Mafalda Sanches a 27 de Junho de 1793 pelo papa Pio VI.
O carinho do povo pela sua “Rainha Santa” está bem patente no território do Vale do Sousa e Tâmega, onde foram erguidos diversos monumentos em sua memória, como o Memorial da Ermida em Penafiel, de Sobrado em Castelo de Paiva e de Alpendorada em Marco de Canaveses. Estes são tradicionalmente, citados como marcando a passagem do cortejo fúnebre de D. Mafalda até ao Mosteiro de Arouca.