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A Rota do Fresco do Alentejo

A pintura mural apresenta-se por todo o país com especial predominância no norte, Trás-os-Montes, Entre o Douro e Minho e beiras e, claro está, no Alentejo.
A pintura mural alentejana teve o seu apogeu durante o século XVI e XVII representando uma imagética religiosa e catequética. A pintura mural tem tendência a surgir mais frequentemente em meios rurais, de fracos recursos económicos. Este facto pode estar ligado aos baixos custos de produção que esta técnica proporcionava. Apesar destas pinturas serem encomendadas por todos os estratos sociais (nobres, confrarias / irmandades, Misericórdias, comissões fabriqueiras) esta apelava a clientes de menores posses monetárias como as pequenas paróquias do Portugal medieval. Não obstante, a pintura mural alentejana resistiu até aos nossos dias, com maior ou menor grau de degradação, enriquecendo o património desta região e apelando a uma visita.
Viajámos pelos concelhos de Portel, Vidigueira, Cuba, Alvito e Viana do Alentejo à procura das igrejas, ermidas e capelas que guardam obras de arte únicas. Venham connosco neste roteiro.

Parceiros: SPIRA – Revitalização do Património



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Alvito

O lugar do Alvito foi conquistado, em 1234, pelos Portugueses e doada a D. Estêvão Anes que fomentou o seu repovoamento. Em 1387, D. João I doa o Alvito a D. Diogo Lobo em troca dos seus serviços na batalha de Aljubarrota e na conquista de Évora. Desde então, a cidade tem estado intimamente ligada a esta família.
Alvito foi sede da primeira baronia de Portugal. Em 1475, o Dr. João Fernandes da Silveira passou intitular-se Barão do Alvito por graça de D. Afonso V. O facto de se tornar a casa de um Barão colocou o Alvito como um dos principais centros político-económicos do Alentejo, algo que se pode constatar no esplendor dos monumentos existentes hoje em dia.
Chegamos à praça central, dominada pelas mós do lagar de azeite e, numa das extremidades, pela Ermida de São Sebastião. A sua arquitectura é típica de um gótico-mudéjar referência no Alentejo durante os anos do reinado de D. Manuel I. A sua cor branca destaca-se das construções envolventes.
Uma voz soa vinda de um dos bancos de jardim a perguntar se queremos visitar a ermida. Respondemos que sim à senhora idosa que nos sorri amigavelmente. Ela identifica-se como D. Arlinda, residente no Alvito e que, há cerca de 30 anos e sem receber nada em troca, abre as portas do templo a quem o queira ver.
Quando passamos para o lado de dentro parece que somos engolidos por um quadro. O tecto está totalmente coberto por anjos músicos, cada um a tocar o seu instrumento numa sinfonia silenciosa. O rodapé deixa antever uma imitação de azulejos em xadrez que deveria estar em toda a volta. Aliás, ao que parece, a totalidade do interior da Ermida estaria coberta de pintura a fresco. Mais tarde, e com as intervenções de recuperação, foi caiada de branco. Investigações recentes vieram revelar o que estaria escondido por baixo da tinta.
Na parede fundeira da capela, surge São Francisco (lado esquerdo) e Santo António (lado direito). As pinturas são atribuídas à oficina de José de Escovar, pintor que esteve activo entre 1585 e 1621.
No município do Alvito fazem também parte da Rota do Fresco: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, que detém diversos exemplares de pintura mural do século XV ao século XVIII; a pintura seiscentista da Capela das Almas da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila Nova da Baronia; e os frescos do tecto e parede fundeira da Capela dos Passos em Vila Nova da Baronia.


Rota do Fresco no Município de Alvito: 
  • Capela das Almas da Igreja Matriz (Vila Nova da Baronia)
  • Capela dos Passos (Vila Nova da Baronia)
  • Ermida de São Sebastião (Alvito)
  • Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção (Alvito)

Mais informações sobre a Rota do Fresco: www.spira.pt

Cuba do Alentejo

O Concelho de Cuba detém um importante núcleo de Pintura Mural a fresco concentrado nas Freguesias de Vila Ruiva e Vila Alva devido às influências das forças da sociedade medieval: Igreja, da Nobreza e do Povo. Escolhemos a Ermida de Nossa Senhora da Represa, localizada na estrada que liga Cuba a Vila Ruiva para apresentarmos os frescos patentes nesta região.
A Ermida de Nossa Senhora da Represa ou de São Caetano apresenta traços da arquitectura gótico-mudéjar. Por dentro a nave apresenta azulejos nos alçados, mas o que impressiona mais é o tecto ricamente decorado em tons quentes. Havia, ao que parece, um horror ao vazio na decoração deste templo.
Como foi dito, Cuba está repleta de exemplares magníficos da pintura a fresco. Devemos mencionar alguns deles. A Igreja do Carmo preserva, no alçado Sul da nave, uma representação isolada de São Cristóvão. De destacar, também, os medalhões nos alçados da capela-mor de São João Evangelista e São João Baptista. Na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Encarnação de Vila Ruiva apresentam-se cinco painéis distintos, três na parede fundeira e dois nos alçados laterais da capela. Logo atrás da Igreja Matriz encontra-se a Igreja da Misericórdia de Vila Ruiva. Lá dentro estão retratados as cenas da “Última Ceia” e o “Lava-Pés”. Finalmente, em Faro do Alentejo, encontra-se a Igreja de São Luís. A Igreja está revestida de pintura mural nas paredes da nave e da capela-mor.


Rota do Fresco no Município de Cuba: 

  • Igreja do Carmo (Cuba)
  • Igreja Matriz de Nossa Senhora da Encarnação (Vila Ruiva)
  • Igreja da Misericórdia (Vila Ruiva)
  • Ermida de Nossa Senhora da Represa (Vila Ruiva)
  • Igreja de São Luís (Faro do Alentejo)

Mais informações sobre a Rota do Fresco: www.spira.pt

Portel

Os monumentos mais marcantes de Portel são, sem dúvida, o castelo e a muralha que envolve a Vila Velha contudo, este município alberga, também alguns testemunhos de pintura mural.
Centramo-nos na capela de São Brás de Portel. Desde 1853 que é a capela do cemitério da vila, mas julga-se ter sido construída durante a segunda metade do século XVI. É um templo pequeno, de planta quadrangular à semelhança da capela-mor. A pintura mural cobre a totalidade do tecto da nave. Os motivos são maioritariamente geométricos e vegetalistas com o intuito decorativo. No centro reina um serafim que ostenta uma mitra e um báculo. Na parede fundeira residem uma “Nossa Senhora com o Menino” e um “Papa Gregório Magno”.
Para além desta capela é possível encontrar a Igreja Paroquial de São Bartolomeu do Outeiro, no alto da aldeia com o mesmo nome. Esta apresenta vestígios do que teriam sido frescos nas abóbadas de berço das capelas colaterais.


Rota do Fresco no Município de Portel: 

  • Capela de São Brás (Portel)
  • Igreja Paroquial de São Bartolomeu do Outeiro (São Bartolomeu do Outeiro)

Mais informações sobre a Rota do Fresco: www.spira.pt

Viana do Alentejo

Parámos junto ao Santuário branco com detalhes em amarelo, que se vê distintivamente a grande distância. O actual Santuário de Nossa Senhora de Aires de Viana foi edificado em 1743 para se adequar à afluência de fiéis da altura. A obra é toda ela em estilo Rocócó.
O Santuário é conhecido pelas festas que decorrem anualmente neste local, o que justifica a proliferação de postes de madeira no terreno à sua frente. É um local de fé e de peregrinações vindas principalmente do Alentejo. Pudemos testemunhar isso aquando da chegada de uma esgotada, mas sorridente, peregrina.
No interior (mais pequeno do que parece à partida) destacam-se os janelões e – pelo meio da talha dourada, dos azulejos e do mármore – as pinturas a seco da cúpula, com janelões fingidos. No topo da cúpula surge a “Aparição da Virgem com o Menino Jesus a Francisco de Assis” pintado a fresco.
Também no concelho de Viana do Alentejo destacamos a Igreja Matriz do Salvador em Alcáçovas que, para além da maravilhosa vista envolvente, apresenta pintura a fresco na Capela Tumulária dos Henriques de Trastâmara e na Capela de Nossa Senhora do Rosário. Ainda em Alcáçovas fica a Ermida de São Pedro dos Sequeiras, fundada pela viúva de Luís de Mira de Sequeira, importante fidalgo lavrador da Vila. Aqui pode ver os frescos existentes no tecto da Capela-Mor.


Rota do Fresco no Município de Viana do Alentejo: 

  • Ermida de São Geraldo (Alcáçovas)
  • Santuário de Nossa Senhora de Aires (Viana do Alentejo)
  • Igreja Matriz do Salvador (Alcáçovas)
  • Ermida de São Pedro dos Sequeiras (Alcáçovas)

Mais informações sobre a Rota do Fresco: www.spira.pt

Vidigueira

Recuamos alguns séculos para falar-vos da pintura a fresco no município da Vidigueira. Encontramo-nos nas ruínas romanas, perto de Vila de Frades, no local que posteriormente ficou conhecido como Santuário de São Cucufate. Este é o único vestígio que nos permite ligar a evolução da pintura mural em Portugal com a pintura feita durante o período Romano.
A primeira Villa Romana foi construída durante o século I D.C. para posteriormente ser demolida para a construção da segunda Villa. A meio do seculo II D.C. esta foi também destruída para se erigir a Villa da qual vemos os vestígios mais proeminentes.
Passamos pelo templo de forma circular e vamos directamente para junto da fachada principal da Villa. Ao contornarmos a esquina entramos para o espaço que seria o celeiro durante a época romana. Após o abandono da Villa os monges, ligados a São Vicente de Fora de Lisboa, aproveitaram o espaço para local de culto. O convento caiu em ruína no século XVI tendo sido recuperado pela Santa Casa da Misericórdia no século seguinte.
A toda à volta, existem vestígios da pintura mural que permanecem nas paredes. Olhe para cima. Figuras de anjos músicos tocam os seus instrumentos animando o espaço. Nas colunas ressaltam motivos vegetalistas e nas paredes santos e bispos permanecem imóveis para a eternidade.
Convém agora, referir alguns dos outros monumentos do município da Vidigueira e que fazem parte da Rota do Fresco. Começamos pela localidade mais próxima: Vila de Frades. Aqui podem visitar a Ermida de São Brás, junto ao jardim infantil. Trata-se de uma pequena Ermida que estaria totalmente revestida de pintura mural. Na Vidigueira encontram a Ermida de Santa Clara, cujo estado de deterioração do exterior vai avançando a olhos vistos. No interior permanecem vestígios de pintura mural, tanto na nave como na capela-mor. Por fim, na pequena localidade de Pedrógão do Alentejo, mantém-se a pequena Ermida de Santa Luzia. O templo de planta quadrangular dos inícios do século XVII detém vestígios que sobreviveram à cal.


Rota do Fresco no Município de Vidigueira: 

  • Ermida de Santa Clara (Vidigueira)
  • Ermida de Santa Luzia (Pedrógão do Alentejo)
  • Ermida de São Brás (Vila de Frades)
  • Santuário de São Cucufate (Vila de Frades)

Mais informações sobre a Rota do Fresco: www.spira.pt

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