DESTINOS
Por caminhos bem temperados descobrimos pedaços de história a cada passoA Rota de Miguel Torga
Das montanhas nasceu o poeta que procura eternamente a razão da sua existência. As rochas são o seu ar, a urze é o seu nome. Começou como Adolfo Correia da Rocha, mas cedo se identificou como outro, como Miguel Torga.
Adolfo Rocha era filho modestos agricultores de Trás-os-Montes, aprendeu a trabalhar a terra, gosto que não se perdeu ao longo dos anos, tal como, o gosto pela caça.
Um observador atento do mundo que o rodeava viajou por vários países aventurando-se inclusive por terras espanholas em plena guerra civil para fazer o retrato literário que o levaria à cadeia em terras lusas.
O seu papel foi fundamental na construção da democracia portuguesa. Após a revolução de 25 de Abril de 1975, Miguel Torga ajudou a fundar o partido socialista juntamente com Mário Soares.
Mas é do poeta, do escritor, do observador que pretendemos falar. Miguel Torga deixou-nos há 20 anos e até hoje não houve ninguém igual. Nas suas memórias divididas em diários partilhou um mundo que era o dele e o nosso. Fez o retrato de um Portugal ainda afastado dos outros países da Europa. Fala sobre a natureza do nosso país e sobre os próprios portugueses de forma crítica e realista.
Uma bibliografia espantosa que é hoje estudada e obrigatória no ensino em Portugal. Obras como “Bichos” e os “Contos da Montanha” não poderão ser esquecidos da memória coletiva. Para além da sua conhecida prosa e poesia, Miguel Torga foi também autor de ensaios e peças de teatro.
Esperamos que este tema desperte a sua curiosidade para conhecer melhor este brilhante autor.
São Martinho de Anta
Coimbra
Leiria
Conheça o percurso de vida de Miguel Torga.
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São Martinho de Anta (Sabrosa)
Casa de Miguel Torga – local onde nasceu em 1907
Escola Primária – onde fez a sua escolaridade entre 1913 e 1917
Espaço Miguel Torga – inaugurado em 2014 é um espaço de homenagem ao escritório onde se encontra uma exposição sobre a vida e obra do escritor e poeta.
Negrilho – no centro da Vila é um local de homenagem a Miguel Torga, onde se encontrava um Negrilho muito amado pelo Poeta, que lhe dedicou mesmo um poema “A um Negrilho” in Diário VII
“Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada (…)”
Santuário Nª Sra da Azinheira – local de onde Miguel Torga se inspirou o poema Identificação – Diário XV uma ovação às pedras que o viram nascer.
“Cá vim à festa da Senhora da Azinheira. Larguei do Gerês com dois amigos por terras da Cabreira e de Basto, atravessámos o Tâmega e o planalto do Alvão, descemos o vale de Vila Pouca, subimos de novo, chegámos, ergui o velho da cama, meti-o no carro, e aqui estamos todos no adro da ermida, à sombra dum negrilho, a olhar os horizontes e ouvir um sermão.”
In Diário VII
Mamoa de Madorras – Miguel Torga segui com bastante interesse o trabalho dos arqueólogos aquando da sua descoberta.
Cemitério onde está sepultado junto com a sua esposa Andrée Crabbé.
São Leonardo da Galafura – Local onde Miguel Torga se inspirava e onde decidiu um dia ser escritor.
“Desta terra sou feito.
Fragas são os meus ossos,
Húmus a minha carne .
Tenho rugas na alma
E correm-me nas veias
Rios impetuosos.
Dou poemas agrestes,
E fico também longe
No mapa da nação.
Longe e fora de mão…”
in Diário XV
Coimbra
Entre 1925- 1933
Liceu José Falcão – onde fez em 1927 o terceiro ciclo em apenas um ano.
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Republica Estrela de Alva (Ladeira do Seminário) – local onde morou enquanto estudante de Medicina da Universidade de Coimbra.
(…) Coimbra é uma linda cidade, cheia de significação nacional. Bem talhada, vistosa, favoravelmente colocada entre Lisboa e o Porto, a primeira, marítima, a segunda, telúrica, uma a puxar para fora e outra a puxar para dentro, ela representa uma neutralidade vigilante, fazendo a osmose do espírito que parte com o corpo que fica. Do espírito que vai, ou deve ir, a todas as aventuras do mundo, e do corpo que tem raízes imutáveis no chão nativo. (…)
Sim, Coimbra é uma linda cidade e, cheia de sentido nacional. Não há nenhuma mais bela no país, e muito do que a Nação fez de bom e de mau fê-lo aí ou teve aí a sua gênese.
Miguel Torga, in Portugal
Entre 1940- 1995
1ª habitação em Coimbra – nº 32 da Estrada da Beira.
Consultório – nº 45 Largo da Portagem (1º Andar).
Casa Museu Miguel Torga – Rua Fernando Pessoa nº 3, casa que mandou construir em 1953 e na qual viveu até ao seu falecimento. O espaço está mantido tal qual era no tempo do escritor e podemos assim vivenciar o seu dia-a-dia percorrer os mesmos corredores do escritor.(Oferta de uma entrada com a Box Poesia e Prosa)
Memorial Miguel Torga – Junto ao Rio, perto largo da Portagem.
“De todos os cilícios, um, apenas,
Me foi grato sofrer
Cinquenta anos de desassossego
A ver correr,
Serenas,
As águas do Mondego”
Miguel Torga, in Memória Diário XIV
Leiria
Consultório – Rua Comandante João belo e Largo Marechal Gomes da Costa. Neste edifício o médico Adolfo Rocha (Miguel Torga) instalou o seu consultório de otorrinalaringologia a 6 de Julho de 1939, no 1º andar do nº 5, que lhe serviu igualmente de residência.
«…e ali passava parte das manhãs e das tardes, sonolento, a atender os raros doentes que a notícia da minha chegada num jornal da terra ia trazendo, a ler e a escrever nos longos intervalos das consultas, enquanto os quartos caíam monotonamente da torre da Sé e a senhora Glória fazia renda ou ponteava na sala de espera».
Miguel Torga, in O Quinto Dia de A Criação do Mundo
Edifício do SEF antiga intendência da Polícia, Av. Ernesto Korrodi. Em Novembro de 1939, Miguel Torga foi detido pela PSP, por ordem do Ministro do Interior, por ter denunciado os horrores das Ditaduras da Europa nomeadamente de Franco e Mussolini em A Criação do Mundo – o Quarto Dia. Após uma vaga acusação de defender ideias subversivas e de comunismo é entregue a PIDE e desde aí incomunicável. Foi transferido para o Limoeiro e para a Cadeia do Aljube de Lisboa onde é confinado ao isolamento. Será libertado em Fevereiro de 1940 sem julgamento.
“Da janela gradeada do cubículo onde fui metido viam-se os telhados de meia cidade, uma nesga da fachada da Sé, as torres de várias igrejas, o cemitério e (…) a capela da Senhora da Encarnação (…). Por detrás, lá longe, a aldeia da Abadia a branquejar na verdura dos montes onde costumava ir à caça…”
Miguel Torga, in O Quinto Dia de A Criação do Mundo
Em Leiria, Miguel Torga frequentou ainda a Biblioteca Erudita e o Arquivo Distrital no Largo Cónego de Maia, assim como o antigo Teatro D. Maria Pia, onde assistia a filmes mas igualmente a espetáculos musicais e teatrais. Após jantar apreciava uns passeios nas margens do Rio Lis que percorria com frequência com seu amigo Dr. Olívio.