Rota do Românico
Percurso Vale do SousaEste mês descubra…
A Rota do Românico- Percurso “Vale do Sousa”
“O nosso berço é românico”
É de senso-comum dizer que a Idade Média foi um tempo de trevas e de obscurantismo onde a humanidade regrediu na sua evolução. No entanto, se isso em certos pontos detém um fundo de verdade, é igualmente verdade que a Idade Média foi palco de grandes avanços tecnológico, científicos, agrícolas e arquitetónicos. É uma época fascinante, da qual as histórias, as lendas e as personagens míticas ou reais povoam ainda o nosso imaginário.
A arquitetura românica surgiu na Europa entre o final do século X e as duas primeiras décadas do século XI e caracteriza-se, nos seus elementos mais distintivos, pelo uso do arco de volta perfeita, as abóbadas de berço, a perfeição dos silhares e a espessura dos muros.
Em Portugal, o aparecimento da arquitetura românica coincidiu com a fundação da nossa Nacionalidade, com a construção das sés de Coimbra, Lisboa e Porto e do mosteiro de Santa Cruz em Coimbra. Prolongou-se até ao século XV o que levou alguns autores a designa-la, nestes casos, como “românico de resistência”.
Nas margens dos rios Sousa, Tâmega e Douro ainda subsiste um importante património de origem românica. Os mais paradigmáticos estão estruturados em 58 monumentos e três percursos, pertencentes à Rota do Românico: Sousa, Tâmega e Douro.
Acompanhe-nos, na primeira etapa, desta viagem fantástica pela história, no Percurso do “Vale do Sousa” e seus cativantes 19 monumentos.
O nosso agradecimento por todo o apoio e colaboração, na elaboração deste Roteiro, a toda a equipa da Rota do Românico!
Igreja de São Vicente de Sousa
Igreja do Salvador de Unhão
Ponte da Veiga
Igreja de Santa Maria de Airães
Igreja de São Mamede de Vila Verde
Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro
Torre de Vilar
Igreja do Salvador de Aveleda
Ponte de Vilela
Igreja de Santa Maria de Meinedo
Ponte de Espindo
Mosteiro de São Pedro de Ferreira
Torre dos Alcoforados
Capela da Senhora da Piedade da Quintã
Mosteiro de São Pedro de Cête
Torre do Castelo de Aguiar de Sousa
Ermida da Nossa Senhora do Vale
Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa
Memorial da Ermida
Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro – Felgueiras
O Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro foi um dos mais importantes mosteiros beneditinos do Entre-Douro-e-Minho e está rodeado por verdejantes terras férteis.
Fundado por D. Gomes Echiegues (1024-1102) e sua mulher Gontroda, em 1099, recebeu carta de couto de D. Teresa (1080-1130), mãe do primeiro rei português, D. Afonso Henriques, em 1112.
Esta obra da Rota do Românico foi iniciada no final do século XII e concluída, provavelmente, nas primeiras décadas do século XIII.
Da escultura românica, destacam-se os capitéis de inspiração vegetalista, as impostas, constituídas por palmetas simplificadas e que apoiam as seis arquivoltas. Podem ainda ver-se aduelas com animais e cabeças de animais de cujas bocas saem fitas.
Entre o portal principal e a rosácea estão os nichos que em tempos albergaram São Bento, Santa Escolástica e, ao centro, Santa Maria de Pombeiro.
Ao entrar na igreja, de três naves, somos inundados pela luz que entra abundantemente pelas janelas e se reflete nas paredes brancas. Três tramos conduzem-nos até ao retábulo-mor da igreja cuja imagem de Santa Maria é figura central.
Olhamos para cima, para o longínquo teto e para o zimbório que nos deixa ver o céu e deixamo-nos impressionar pela diversidade de estilos artísticos: românico, renascentista, barroco, rococó e neoclássico. Felizmente, tudo foi preservado até aos nossos dias.
Informações úteis Morada: Lugar do Mosteiro Pombeiro de Ribavizela – Felgueiras GPS: 41° 22′ 58.091″ N / 8° 13′ 32.597″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja de São Vicente de Sousa – Felgueiras
A cerimónia de dedicação da Igreja de São Vicente de Sousa foi presidida pelo arcebispo de Braga, D. Estêvão Soares da Silva, que ocupou o cargo entre 1212 e 1228, visto que naquela época esta igreja pertencia à Sé de Braga e não à Sé do Porto como acontece atualmente.
Duas inscrições de extrema importância para a sua história podem ser encontradas nas suas paredes. Uma indica a data da sua sagração em 1214. A outra, ainda mais antiga, data de 1162 e corresponde a uma inscrição funerária.
Os túmulos escavados a norte são a outra face da vivência que acontecia a sul. O lacrimal na parede serviria para colocar um alpendre para que a população pudesse discutir assuntos não relacionados com a igreja. Dentro da igreja discutiam-se assuntos religiosos, fora da igreja discutiam-se assuntos profanos.
A Igreja de Sousa ainda apresenta muitos traços do românico português como por exemplo o portal principal. É composto por quatro arquivoltas, em arco de volta perfeita, que assentam sobre três colunas bolbiformes, de plinto decorado por entrelaços, fustes cilíndricos que alternam com fustes prismáticos, capitéis e impostas ornados com motivos vegetalistas talhados em bisel que são testemunhos da originalidade do românico português, com a particularidade do capitel exterior do lado direito apresentar uma cara.
No interior, pode ser observada a ampliação que a capela-mor sofreu aquando do Concílio de Trento. Algumas das antigas paredes estavam pintadas a fresco. Como curiosidade, ainda se pode ver uma cabeça de um santo que está voltada para baixo, prova de que foram usadas pedras da antiga capela para fazer a nova.
No teto da capela encontramos 30 magníficas pinturas referentes ao orago da igreja, São Vicente. Vinte delas são imagens da vida do santo enquanto as restantes, já posteriores, referem-se aos milagres por ele perpetrados.
Antes de sair deve admirar com calma o deslumbrante retábulo-mor, barroco, incrivelmente trabalhado em que surge o pelicano a dar vida às suas crias, o símbolo de Cristo
Informações úteis: Morada: Lugar da Igreja, Sousa – Felgueiras. GPS: 41° 20′ 37.685″ N / 8° 14′ 56.145″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja do Salvador de Unhão – Felgueiras
Unhão era um centro nevrálgico na época medieval. Foi sede de concelho e comemora, em 2015, os 500 anos de atribuição do foral do concelho de Unhão.
A primeira característica que salta à vista é o portal principal quase sem simbologia e com um friso muito comum no românico bracarense e motivos vegetalistas do românico do sousa. Por cima do portal podemos ver uma janela em forma de fresta que apresenta umas pequenas colunas e um arco de volta perfeita como ainda não tínhamos visto nesta Rota do Românico. Cruzes fazem guarda tanto à entrada da igreja como na parede norte. Estas cruzes fariam o caminho da via-sacra em direção a uma capela próxima ou em direção a um monte.
Ao dar a volta, vemos que a torre sineira foi colocada posteriormente e que toda a parede sul foi alterada visto a cachorrada estar interrompida na parte superior e as cores das pedras da parede serem diferentes. Podemos ver igualmente alguns “S” que indicam a marca do canteiro, o mestre ”Sisaldis”.
Lá dentro, constatamos que a decoração já é neoclássica, que o púlpito é barroco e que apenas a parede norte (para além da parede ocidental) é românica pela presença das frestas. O arco cruzeiro também não é românico e a capela-mor foi recuperada pela Rota, pois já se encontrava num estado de degradação bastante avançado. Contudo, os apontamentos modernos conjugam-se com os elementos clássicos sendo este um templo que impressiona.
Informações úteis: Morada: Lugar da Igreja, Unhão – Felgueiras GPS: 41° 18′ 43.701″ N / 8° 14′ 11.564″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Ponte da Veiga – Lousada
A Ponte da Veiga une as margens do rio Sousa entre os lugares de Rio e Cachada, um percurso que ligava a Senhora Aparecida e Unhão, um caminho importante na época medieval. A Ponte da Veiga enquadra-se na rede paroquial cuja fundação pode ligar-se ao Mosteiro de Pombeiro que possuía direitos e propriedades nesta área.
A ponte tem apenas um arco, ligeiramente quebrado, com aduelas estreitas e compridas, que apresentam algumas marcas de canteiro.
A localização original não é onde a ponte se encontra atualmente. A ponte teve que ser mudada para que fosse erigida uma ponte moderna para circulação automóvel.
Informações úteis: Morada: Rua da Ponte da Veiga, Torno – Lousada GPS: 41° 17′ 57.72″ N / 8° 13′ 3.55″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja de Santa Maria de Airães -Felgueiras
A Igreja de Santa Maria de Airães apresenta um portal inserido numa estrutura saliente à fachada principal para que possa ser mais profundo. É possível observar que as quatro arquivoltas não apresentam decoração e que a dimensão dos capitéis indica uma influência gótica, visível também nas molduras e nos capitéis da cabeceira A Igreja que nos chegou deve ser dos finais do século XIII ou mesmo do princípio do século XIV.
Apesar de a Igreja estar documentada desde 1091 apenas a nave central é românica, visto as naves laterais e a capela-mor terem sido acrescentadas posteriormente já com influências de outros estilos.
Lá dentro, a escuridão ainda permanece. As frestas românicas na parede ocidental e na cabeceira deixam entrar apenas um rasgo de luz. Todas as outras aberturas, maiores, já são de influências posteriores.
A capela-mor já é protogótica visto o arco ser quebrado. As paredes laterais são revestidas a azulejo amarelo, datado do século XVII, com apontamentos de azul de uma qualidade excecional.
Informações úteis: Morada: Lugar do Mosteiro, Airães – Felgueiras GPS: 41° 18′ 54.421″ N / 8° 11′ 52.88″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja de São Mamede de Vila Verde – Felgueiras
A Igreja de São Mamede de Vila Verde situa-se num local que, na Idade Média, deveria ser marcado pela pastorícia. Talvez seja por isso que o orago do templo é São Mamede que foi pastor de Cesareia, na Capadócia, atual Turquia. No deserto construiu um oratório onde pregava os evangelhos aos animais selvagens. Com o leite dos animais produzia queijo que depois oferecia aos pobres como lhe foi ordenado por um anjo. São Mamede acabou por ser considerado protetor do gado, das amas-de-leite e dos intestinos.
Trata-se de mais um exemplar do designado “românico de resistência”, uma vez que este templo foi edificado no século XIV. A documentação já atesta a existência da paróquia e da igreja no início do século XIII, no entanto, o templo atual corresponde a uma reforma mais tardia.
Caracteriza-se por ser um excelente exemplo de arquitetura regional e periférica. É uma igreja pequena que apresenta cachorros lisos e já não possui um portal românico. No ano 2004, recebeu uma forte intervenção por parte da Rota do Românico, pois já quase só restavam as paredes exteriores.
Agora está rodeada por uma bela área envolvente, bem cuidada e aprazível. Do lado esquerdo deixaram alguns túmulos que foram descobertos ao longo do tempo.
Lá dentro fica visível a intervenção que foi feita. Elementos modernos como os candeeiros de teto ou a cruz com um “Cristo” estilizado e encimado por um abajur que representa a coroa de espinhos, conjugam-se na perfeição com as características antigas como, por exemplo, a pintura a fresco encomendada pelos abades do Mosteiro de Pombeiro, no século XVI, e realizadas pelo mestre Arnaus. Estas pinturas estão mais visíveis na parede fundeira onde se podem observar dois santos, segurando báculos que, tudo leva a crer, devem corresponder a São Bento e a São Bernardo, uma vez que um veste hábito negro e o outro um hábito branco.
Informações úteis: Morada: Lugar de São Mamede, Vila Verde – Felgueiras GPS: 41° 18′ 17.190″ N / 8° 10′ 55.612″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Torre de Vilar – Lousada
A Torre de Vilar foi o único monumento que tivemos a oportunidade de ver integrados num grupo externo à equipa da My Own Portugal.
Com uma altura de cerca de 14 metros ou cinco andares, a Torre de Vilar é um edifício situado no topo de um monte que domina um vale fértil e bem irrigado.
Estas domus fortis, como são conhecidas, eram o símbolo do poder senhorial sobre o território, uma residência fortificada.
A torre foi construída em blocos graníticos que apresentam, por vezes, algumas siglas de canteiro. Ao longo das paredes rasgam-se seteiras e apenas duas janelas retangulares.
A torre poderá ter sido erguida entre a segunda metade do século XIII e o início do século XIV, não se sabendo ao certo quem a mandou construir. No entanto, conta a história, que em 1367, o rei D. Fernando (r. 1367-1383) doou Vilar do Torno, Unhão e Meinedo a Aires Gomes da Silva, tendo o edifício permanecido na mesma família ao longo do século XV.
Informações úteis: Morada: Alameda Torre de Vilar, Vilar do Torno e Alentém – Lousada GPS: 41° 17′ 12.082″ N / 8° 12′ 36.906″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja do Salvador de Aveleda – Lousada
Esta igreja de construção simples é um retrato do chamado “românico de resistência”, um testemunho da longa persistência das formas românicas na arquitetura medieval portuguesa.
Chamam logo a atenção os capitéis vegetalistas, ou a ausência de colunas nos portais laterais. O portal principal já apresenta um friso ligeiramente quebrado. As janelas são ainda em forma de frestas, fechadas para o exterior e abertas para o interior para entrar mais luz.
Lá dentro destacam-se as pinturas deslumbrantes no teto da capela-mor, da nave e por cima do arco triunfal.
Nos caixotões da capela-mor é possível “cantar” a ladainha da Nossa Senhora, saltando entre as pinturas.
Ao fundo da nave, está representado o Salvador do Mundo ladeado pelos evangelistas Mateus, Lucas, João e Marcos. Perto do arco temos uma imagem alegórica da igreja com os seus pilares ao lado: São Pedro e São Paulo. No centro, encontramos uma pintura da Santíssima Trindade.
Informações úteis: Morada: Lugar da Igreja, Aveleda – Lousada GPS: 41° 16′ 46.51″ N / 8° 15′ 10.95″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Ponte de Vilela – Lousada
A Ponte de Vilela é de difícil datação, contudo deverá pertencer ao século XIII devido ao método construtivo.
Feita em cantaria granítica, apresenta como características românicas, os arcos. Tem quatro arcos de volta perfeita sendo que apenas dois se encontram no leito do rio. O pavimento é igualmente feito em granito. De notar que os silhares desta ponte não apresentam qualquer sigla de canteiro, o que não era muito comum na época.
A Ponte de Vilela assegurava a travessia do rio Sousa estabelecendo a ligação entre Vilela e os lugares de Vilar de Nuste e de Cartão.
Informações úteis: Morada: Lugar de Vilela, Aveleda – Lousada GPS: 41° 16′ 8.53″ N / 8° 14′ 53.31″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Igreja de Santa Maria de Meinedo – Lousada
Meinedo e a sua igreja são de grande importância para a história religiosa portuguesa. No século VI, está registado que foi sede de um bispado. Diz a lenda que foi o sogro do rei visigótico Recaredo que foi à cidade de Constantinopla (atualmente Istambul, Turquia) recuperar o corpo de Santo Tirso e o trouxe para esta povoação a fim de fundar o mosteiro sob sua evocação.
Um pouco a norte da Igreja de Santa Maria de Meinedo há vestígios de muros e alguns capitéis que terão pertencido a uma basílica.
Em 1113, D. Afonso Henriques (r. 1143-1185) entrega ao bispo do Porto D. Hugo (episc. 1113-1136) o couto do mosteiro de Santo Tirso de Meinedo.
A igreja apresenta um românico tardio ou um “românico de resistência” visto ter sido fundada nos finais do século XIII ou no princípio do século XIV.
O portal principal não apresenta tímpano nem colunas e abre-se em arco apontado. Tem as arquivoltas decoradas com motivos de pérolas. O granito é, também, bastante grosso sendo que as marcas de canteiro são praticamente inexistentes.
No interior, os vestígios românicos desaparecem. Chama a atenção a parede contígua ao arco triunfal revestido em talha dourada, o azulejo da capela-mor do final do século XVII ou início do século XVIII ou a imagem da Nossa Senhora de Meinedo agora na parte lateral da nave. Na parede fundeira existem ainda frescos do século XV ou XVI, mas o acesso a estes está obstruído pelo rico retábulo-mor.
No teto da capela é possível estudar a catequese nas imagens dos caixotões, assim como admirar magníficos quadros referentes a Nossa Senhora.
Informações úteis: Morada: Rua da Igreja, 137, Meinedo – Lousada GPS: 41° 14′ 54.789″ N / 8° 15′ 26.908″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Ponte de Espindo – Lousada
Apesar de ser possível transitar de carro pela ponte decidimos fazer o caminho a pé aproveitando o calor do sol.
A Ponte de Espindo situa-se no lugar com o mesmo nome, na freguesia de Meinedo, concelho de Lousada.
A data de construção desta ponte é difícil de apurar, contudo a sua semelhança com uma ponte medieval, o seu único arco de volta perfeita e a sua construção em blocos de granito, fazem-nos crer que se trata de uma ponte com origens românicas.
A Ponte de Espindo assegurava a ligação entre os lugares de Bustelo (Penafiel) e de Boim (Lousada). A ponte é de pequenas dimensões, mas é apoiada em sólidos pilares que arrancam diretamente das margens. O pilar da margem esquerda foi protegido por um muro ou mouchão, a montante.
Informações úteis: Morada: Lugar de Espindo, Meinedo – Lousada
GPS: 41° 14′ 36.53″ N / 8° 16′ 24.75″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Mosteiro de São Pedro de Ferreira – Paços de Ferreira
A Igreja do Mosteiro de São Pedro de Ferreira é um dos mais emblemáticos monumentos do românico português, com particularidades únicas nos edifícios dessa época em Portugal.
Reza a lenda que a igreja foi construída da “noite para o dia”. E, de facto, esta foi erguida entre 1180 e 1195, o que para a época, pode-se dizer, foi uma construção extremamente rápida. Habitualmente, a construção de uma Igreja podia demorar várias gerações.
Logo no portal principal, descobrimos a presença de três mestres provenientes de três “escolas” do românico, que se conjugam de forma harmoniosa:
• O românico do Vale do Sousa: que se pode ver nas colunas com a alternância entre uma coluna cilíndrica e uma coluna prismática, típica desta região. Temos igualmente capitéis trabalhados a bisel, muito superficial, com formas de cestarias;
• O românico de Braga: com o uso nos capitéis de figuras de animais afrontados com uma única cabeça e com a palmeta bracarense em forma de corações invertidos;
• O românico de Zamora (Espanha): que se verifica nas arquivoltas em forma de “favos”, única em Portugal e que existem somente na catedral de Zamora e em Salamanca.
Em frente ao edifício, encontramos outra singularidade, um nártex ou galilé. Esta antecâmara servia essencialmente para sepultar nobres abastados, solução encontrada aquando da proibição de sepultamento dentro das Igrejas. Estas ante-igrejas eram bastante comuns na época e além da função funerária serviam igualmente de local de reflexão, de preparação para entrada na igreja ou para julgamentos. Contudo, poucas subsistiram até hoje, tornando assim a Igreja de São Pedro de Ferreira um monumento raro.
A igreja impressiona igualmente pela altura, pouco comum nas construções da Idade Média, sendo esse feito conseguido através do uso de contrafortes, suportando o peso das grossas paredes.
No interior, encontramos a Igreja bastante depurada com paredes em bruto e pouco decorada. Os candeeiros são assinados por Álvaro Siza Vieira, dando um contraste interessante entre o contemporâneo e o passado e demonstrando que as obras dos melhores arquitetos de hoje se conjugam perfeitamente com as obras dos melhores arquitetos da Idade Média.
Informações úteis: Morada: Avenida do Mosteiro de Ferreira, Ferreira – Paços de Ferreira.
GPS: 41° 15′ 53.388″ N / 8° 20′ 37.661″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Torre dos Alcoforados – Paredes
A Torre dos Alcoforados, ou como é popularmente conhecida “Torre dos Mouros” ou “Torre Alta”, ganhou o nome da família que a tradição veio a conotar como sua fundadora. Contudo, o mais provável é que a origem desta torre se encontre ligada à família Urrô, que foram depois diluídos em Brandões e, estes, em Alcoforados.
A dispersão dos proprietários desta torre por diversas famílias do Porto e de Entre-Douro-e-Minho pode ser a causa do seu abandono precoce.
Esta domus fortis, tal como a Torre de Vilar (Lousada), era um símbolo do poder senhorial sobre as terras circundantes. Mais larga, mas mais baixa do que a Torre de Vilar (a Torre dos Alcoforados tem 8,60 metros), a torre foi provavelmente construída depois de 1258, possivelmente durante a primeira metade do século XIV. Típico do estilo românico pode observar-se, por exemplo, a porta delimitada por um arco perfeito.
No momento em que fomos visitar a torre, em fevereiro de 2015, a Rota do Românico estava a realizar obras de restauro de um monumento que bem o merece. Está programado um espaço expositivo assim como um centro de apoio aos visitantes que serão concluídos em breve.
Informações úteis: Morada: Rua da Torre Alta, Lordelo – Paredes
GPS: 41° 14′ 55.95″ N / 8° 24′ 30.17″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Capela da Senhora da Piedade da Quintã – Paredes
Saindo da estrada principal, e cortando para uma pequena rua encontramos, meio escondida, esta encantadora capela. Apesar da sua fraca relevância arquitetónica é de uma importância fundamental na ilustração do modo de vida das populações desde a Idade Média e de todas as formas de culto da época. Estas capelas são, ainda hoje, locais privilegiados para as festas e romarias populares, tendo as populações geralmente um forte apego a estes locais de culto. Isto poderá explicar em parte o motivo da Capela da Quintã ter chegado até aos dias de hoje mantendo algumas das suas características primitivas.
É de difícil datação, uma vez que já foi alvo de diversas intervenções ao longo dos séculos, mas o sistema construtivo da capela-mor permite-nos deduzir a sua origem no chamado “românico de resistência”, entre os séculos XIII e XIV. Na época moderna, possivelmente para acomodar o aumento da população foi acrescentada a nave, mantendo, porém, a coerência com o estilo arquitetónico anterior.
O interior distingue-se pela sobriedade acrescentando assim um charme peculiar à Capela da Quintã, que apesar de pequena e descomplicada, é, sem dúvida, digna de visita.
Informações úteis: Morada: Rua da N.ª S.ª da Piedade, Baltar – Paredes
GPS: 41° 11′ 22.72″ N / 8° 22′ 43.72″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Mosteiro de São Pedro de Cête – Paredes
O Mosteiro de São Pedro de Cête foi erguido em terrenos férteis como era habitual. Apesar de ser um mosteiro de origem beneditina foi posteriormente entregue à ordem dos crúzios, contudo, ambas as ordens viveram em conjunto até ao início do século XVII.
Já existiria ali um outro templo no século X, no entanto, o abade D. Estêvão Anes procedeu a uma reestruturação arquitetónica e estrutural aproveitando a base românica existente para construir um templo gótico. Nota-se perfeitamente na parede lateral a diferença de cores entre os dois edifícios.
A capela-mor é totalmente gótica já com utilização de contrafortes. A igreja é um belo testemunho da aceitação dos padrões românicos e de quanto eles se ligaram a conceções religiosas. Se o portal norte deve ser considerado como gótico, já o portal principal retoma aspetos do românico epigonal.
Entramos pelo portal norte para uma nave bastante alta e escura. No interior, no lado sul, e dentro de um arcossólio encontramos o vestígio de uma pintura mural de São Sebastião, um santo bastante venerado durante a época medieval.
A capela-mor teria apenas uma fresta aberta, mas com a intervenção no século XX abriram-se mais duas para deixar entrar mais luz. Aqui se localiza o túmulo de D. Estêvão Anes, o abade responsável pelas obras nos finais do século XIII, com a sua pedra tumular esculpida. A cabeceira apresenta um alçado próprio da arquitetura românica com as suas arcadas-cegas.
Antes de nos dirigirmos para a capelada torre sineira, desviamo-nos para o claustro. O sol foi muito bem-vindo. No centro, um jardim bastante simples mas perfeitamente conseguido dá guarida a seis túmulos que não são originalmente daquele local.
Na capela situada no nível térreo da torre da fachada principal, encontramos o túmulo de D. Gonçalo Oveques (1067-1113) a quem a tradição atribui a fundação do primeiro mosteiro Esta capela conserva bons testemunhos de azulejos hispano-mourisco da zona de Sevilha, Espanha, assim como um imponente brasão.
Informações úteis: Morada: Largo do Mosteiro, Cête – Paredes
GPS: 41° 11′ 22.72″ N / 8° 22′ 43.72″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Torre do Castelo de Aguiar de Sousa – Paredes
A Torre do Castelo de Aguiar de Sousa é de difícil acesso, muito mais facilmente alcançável a pé, por uma subida íngreme e, dependendo da altura do ano, escorregadia, por entre algumas casas feitas de pedra.
A torre propriamente dita só se vê quando se alcança o topo. É o que resta de uma antiga estrutura fortificada que pertencia à rede tampão às tropas avançadas dos árabes. O castelo foi, inclusive, atacado por Almançor (938-1002) em 995, aquando das guerras da Reconquista.
A paisagem é deslumbrante, com vista para o vale e para o rio Sousa, que serpenteia lentamente. Temos que imaginar uma vegetação bastante diferente da que existe atualmente. A densa mancha de eucaliptos não estaria ali. Aproveitamos o monumento para descansar e repor energias. A viagem está a aproximar-se do fim, por muito que não queiramos.
Informações úteis: Morada: Travessa do Castelo, Aguiar de Sousa – Paredes
GPS: 41° 7′ 26.054″ N / 8° 26′ 18.768″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Ermida da Nossa Senhora do Vale – Paredes
A Ermida da Nossa Senhora do Vale foi construída provavelmente entre o final do século XV ou princípio do século XVI, estando muito ligada ao Mosteiro de Cête. O edifício é muito mais gótico, com alguns traços do estilo manuelino. Mas, apesar da construção tardia, o templo vai beber algumas influências ao românico como se pode ver no arranjo do portal principal. Intriga-nos a presença de um púlpito debaixo do alpendre que é rapidamente explicada com a necessidade de celebrar a missa no exterior em tempo de romaria, algo que era comum acontecer nas ermidas.
Lá dentro, vestígios dos frescos de mestre Arnaus brilham na luz que vem das janelas. Dois anjos músicos ladeiam o local onde deveria estar pintado o orago deste templo, a Senhora do Vale. A abóbada da capela é feita de madeira, contudo deveria ter sido originalmente de pedra como comprovam os contrafortes no exterior.
As virtudes milagreiras da Senhora do Vale são bem conhecidas da população. Uma delas terá ocorrido em 1747, quando um emigrante português no Brasil terá sido salvo de um cerco por parte dos indígenas graças à intervenção da Senhora do Vale. Outro, conta que, em 1796, uma tempestade abateu-se sobre a embarcação onde viajava, rumo ao Brasil, Custódio Coelho Ferraz Moreira, natural de Cête, que acaba por ser salvo pela Virgem do Vale que, após pedido de patrocínio, fez chegar ao náufrago um fragmento do mastro, no qual navegou durante três horas até ser encontrado.
Informações úteis: Morada: Largo Vitorino Leão Ramos, Cête – Paredes
GPS: 41° 10′ 33.067″ N / 8° 20′ 58.035″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa – Penafiel
Falar do Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa é falar da fundação da nacionalidade e especialmente de Egas Moniz (1080-1146), aio de D. Afonso Henriques e o homem que educou o primeiro rei de Portugal.
Foi depois da morte de Egas Moniz, durante o século XIII, que a família Ribadouro, bastante poderosa durante a primeira dinastia, mandou erigir o mosteiro beneditino sobre uma antiga igreja decorada ao estilo românico europeu. Ao contrário de outras construções da época, o Mosteiro de Paço de Sousa começou a ser construído a partir da parede ocidental uma vez que foi “engolindo” a primitiva igreja.
Nessa altura, o túmulo de Egas Moniz foi colocado na capela do Corporal, um panteão da família que existiria na banda do norte (onde está agora o cemitério) com comunicação para o transepto. Após as sucessivas remodelações, o túmulo foi mudado de local várias vezes até chegar ao sítio onde se encontra atualmente, do lado direito assim que se entra no portal principal.
O magnífico portal, decorado com elementos vegetalistas, tem personagens originais como um homem a afagar a barba, um touro (que poderia simbolizar a força do trabalho) e um tímpano com dois homens, um a segurar um sol, o outro, uma lua que poderá estar ligado à referência bíblica “Eu sou o Alfa e o Ómega; o Sol e a Lua; o Dia e a Noite”.
É engraçado visualizar todas as transformações que o mosteiro sofreu com as sucessivas requalificações. A torre sineira não estava onde está, mas junto ao templo; havia uma casa do lado direito que agora está ao fundo; levaram o cruzeiro para o outro lado do rio; e elementos que ornamentavam o portal estão agora dispersos pelo claustro
O mosteiro era originalmente beneditino mas é entregue, posteriormente, aos jesuítas de Évora. A transição não foi das mais suaves uma vez que as duas ordens entravam constantemente em conflito chegando os beneditinos a cortar o fluxo de água do rio que fornecia os campos onde residiam os jesuítas.
No interior, três enormes naves, num ambiente escuro, acolhem o túmulo de Egas Moniz com um trabalho em relevo de qualidade. A cabeceira é composta por três capelas que comunicam entre si: as laterais, de secção semicircular (absidíolos), à maneira românica, e a central, retangular, já da época moderna.
Informações úteis: Morada: Largo do Mosteiro, Paço de Sousa – Penafiel
GPS: 41° 9′ 57.398″ N / 8° 20′ 41.085″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com
Memorial da Ermida – Penafiel
O último monumento, nesta primeira parte da Rota do Românico que nos levou pelas margens do rio Sousa, é o Memorial da Ermida.
Existem apenas seis memoriais em Portugal sendo que este (assim como o de Sobrado (Castelo de Paiva), Alpendorada (Marco de Canaveses) e Santo António (Arouca)) estará relacionado com a passagem do cortejo fúnebre da beata D. Mafalda (1195-1256), que faleceu em Rio Tinto quando regressava do Porto.
A Rota do Românico criou um bonito espaço com laranjeiras para dignificar o memorial e permitir o seu acesso.
O memorial apresenta um arco de volta quebrada e a mesma decoração que se pode encontrar no Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel) e duas caras ornamentais que suportam o tampo de um túmulo. Há quem diga que o corpo de D. Mafalda esteve aqui repousado, mas isso não se coaduna com a realidade.
D. Mafalda era filha do rei D. Sancho I (r. 1185-1256) e uma figura importante para o românico nacional uma vez que patrocinou a construção de vários monumentos.
Informações úteis: Morada: Lugar da Ermida, Irivo – Penafiel GPS: 41° 10′ 10.360″ N / 8° 19′ 48.594″ O Marcação de Visitas: rotadoromanico@valsousa.pt Website: www.rotadoromanico.com