post_joselaranjoJosé Gomes Laranjo

Docente Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
Presidente da RefCast – Associação Portuguesa da Castanha
 

Centenários ou não, alguns majestosos, os Castanheiros sempre estiveram ao lado do Homem, podendo mesmo dizer-se que se trata de uma árvore domesticada. Como a eles se refere Miguel Torga na sua obra “Novos Contos da Montanha” são castanheiros “… com a idade do Mundo”. Cobiçado pelos seus frutos, estes que saciaram a fome a muitos povos, desde que o Homem deixou de ser caçador e se converteu em agricultor, tornando-se, por isso, na “árvore do pão”. Conhecido pela sua madeira nobre, ao longo de séculos usada na construção de casas, no fabrico de mobiliário, em utensílios para a agricultura, obras de arte sacra e afins e tantas outras aplicações. O castanheiro é ainda o respaldo para muita fauna silvestre que sempre encontrou nesta espécie uma base para a sua sobrevivência, quer através dos frutos, quer através da folhagem.

Conscientes da sua importância, já os Romanos, há cerca de 2500 anos, semearam as suas castanhas pela Europa à medida que o seu Império foi crescendo, tendo tido um papel decisivo na expansão de tão antiga espécie que conta com mais de 40 milhões de anos de existência que no dizer do escritor Beirão Aquilino Ribeiro leva “… trezentos anos a crescer, trezentos anos em seu ser, outros trezentos em morrer.”

Estas árvores que “… pelas encostas, se torcem e esbracejam, soltando frutos eriçados de espinhos… Têm corpo e vida própria…” como diz Jaime Cortesão, são uma espécie que se identifica com a cultura, os costumes, a economia e, por vezes, com a religião dos Povos, tornando-a numa árvore estimada por milhões de pessoas sem distinção de credos ou nacionalidades, desde tempos longínquos até aos povos mais jovens, como o Americano onde ficou conhecida como a “All American Tree”. Mais recentemente conhecida como o “petróleo de Trás-os-Montes”, ou o “ouro” numa homenagem aos Romanos que se instalaram em Tresminas para explorar o ouro do seu subsolo. Por isso, a par do reconhecido valor económico e ecológico desta espécie, não será de estranhar a existência de uma “Cultura do Castanheiro”, de que são exemplo a grande riqueza toponímica, a gastronomia, os magustos, os castanheiros monumentais, sem esquecer a literatura, a música e os roteiros temáticos (vidé Rota da Castanha). Recordando Aquilino Ribeiro “ … o castanheiro é uma árvore bonita, uma árvore da força e da beleza… frondosa.”, uma árvore da saúde, diremos nós.

É com este espírito que convidamos o leitor a viajar neste “Mundo dos Castanheiros”.