Alberto Guerreiro
Museólogo
Por definição, enoturismo, designa um conjunto de serviços turísticos, e de actividades de lazer e de tempo livre, dedicados à descoberta e ao prazer cultural e enófilo da vinha e do vinho. A cultura do vinho é o eixo temático deste produto e o turista deve ser capaz de apreender esta condição durante todas as etapas da sua viagem seja qual for a sua posição na cadeia de valor turístico. Deve ser capaz de “respirar” a cultura vinícola. O valor enológico-cultural determina o peso do elemento do vinho como um eixo ou uma vértebra dorsal da experiência turística. A capacidade temática do vinho é importante, pois é um elemento cultural de grande valor que se estende a toda a sociedade produtora de vinho e que, consequentemente, tem potencial suficiente para abrigar uma quantidade significativa de serviços, actividades e experiências turísticas.
O volume de recursos de vinificação de um destino específico, que é parte da experiência enoturística, constitui um elemento vital para determinar a capacidade de um território para atrair e satisfazer os visitantes. O que diferencia um território vinícola são as suas manifestações culturais: características arquitectónicas da região no que toca às adegas, caves ou propriedades, nas festas, no folclore, na forma de trabalhar o solo e de crescimento da videira, nos meios e técnicas de vinificação, armazenamento ou de consumo de vinho. Um produto enoturístico deve ser composto, identificado e reconhecido facilmente pelos turistas por meio dos diferentes componentes ou elementos específicos da cadeia de valor turístico do produto.
É importante chamar a atenção para o facto de que o enoturismo se deve desenvolver de acordo com os princípios do turismo sustentável. O conceito de turismo sustentável apareceu no final da década de 1980, depois da Organização Mundial de Turismo ter notado que certos destinos turísticos pioneiros estavam a começar a perder a sua atracção e competitividade a nível internacional por causa do turismo de massa e de seu crescimento não controlado, uma vez que não tinham levado em conta os aspectos ambientais e sociais. A capacidade turística refere-se ao número máximo de pessoas que podem usufruir de uma região sem causar desequilíbrios inaceitáveis no ambiente físico ou declínio na qualidade da experiência obtida pelos visitantes. Uma vez que o conceito de capacidade é dinâmico e, uma vez que depende do nível de planeamento desenvolvido, será necessário agir ao nível do potencial das infra-estruturas com uma gestão adequada para optimizar a capacidade receptora dos lugares turísticos, evitando efeitos negativos intoleráveis. Os diferentes agentes (entidades públicas, empresas e população) terão de compartilhar estes princípios e manter um comportamento consequente, o que envolve a necessidade de um investimento na educação e consciencialização pública. A autenticidade do território será porventura o factor mais determinante na experiência enoturística. Em comparação com o turismo de produção em massa, que se dirige a um público diferenciado e que dificilmente terá um nível exigência especializado e alto, o modelo enoturístico refere-se a modos de produção mais artesanais e de pequena escala que pretendem atingir o máximo de autenticidade possível na experiência enoturística que se dirige a um público mais individualizado, muito especializado e exigente. Este modelo deve adaptar-se perfeitamente à realidade socioeconómica dos territórios vitivinícolas e à estrutura de suas áreas produtivas para ter sucesso. É neste âmbito que o enoturismo pode e deve ser encarado como um elemento de valorização da memória do património vinhateiro.
Referencia bibliográfica: Maduro, António Valério; Guerreiro, Alberto; Oliveira, Aurélio (2014), O Museu do Vinho de Alcobaça e o turismo industrial: potenciador referencial e territorial. Comunicação na 3ª EDICIÓN CROSSROADS OF EUROPE – 5º CONGRESO EUROPEO DE TURISMO INDUSTRIAL “Identity, Industry, and Culture”, 7-18-19-20 JUNIO 2014 Ferrol – A Coruña.