Era 7577142254_ded64e69e5_zuma vez um rapaz que ia trabalhar como marinheiro num barco que saía para a Índia. Ora, como ele chegou cedo ao embarque, foi a uma taberna almoçar. No entanto, a dona da taberna só tinha quatro ovos cozidos, que foi que ele comeu. À hora de pagar, ela disse que eram duas moedas, mas não tinha troco para a nota que ele lhe queria dar. Assim, ficou combinado que pagaria quando voltasse da Índia.

Antigamente as viagens eram demoradas e passaram-se quase três anos até o rapaz regressar àquele porto. Como era honesto, foi logo à taberna pagar, pondo as duas moedas em cima do balcão.

A taberneira mostrou-se zangada:

– Com que então, julga que continuam a ser duas moedas, hem? Agora é mais dinheiro! Ora veja: quatro ovos davam quatro galinhas, que em cada ano poriam mais de trezentos ovos, cada ovo daria outras tantas galinhas que poriam….– e por ali fora, atingindo uma quantia de dinheiro que era impossível o rapaz poder pagar por muito rico que fosse!

E como o marinheiro não arranjava aquele dinheiro todo, foi preso e metido na cadeia. Porém, o capitão do barco, que era muito amigo dele, foi ao tribunal e pediu ao juiz que o julgasse, que ele seria o advogado de defesa. O juiz abriu a sessão.

Estava o marinheiro sentado no banco dos réus, quando chegou o capitão todo enfarruscado e o juiz pergunto-lhe o que lhe tinha acontecido. Respondeu-lhe ele:

– Saiba o senhor juiz que enquanto esperava pelo julgamento estive a assar umas castanhas pois preciso de plantar uns castanheiros enquanto não embarco para a Índia.

A taberneira deu uma gargalhada e comentou:

– Ó senhor juiz, que advogado tão tolo! Então não é que quer plantar castanheiros com castanhas assadas?!

E o capitão do barco respondeu:

– E você não fez contas de ovos cozidos darem galinhas, que é a mesma asneira?

O juiz percebeu a lição do capitão e até dispensou o marinheiro de pagar as duas moedas à dona da taberna que queria apanhar ao marinheiro mais dinheiro do que a conta!

 

Fonte: O Grande Livro das Tradições Populares Portuguesas, José Viale Moutinho, 2012, Bertrand Editora
Fonte Imagem: https://www.flickr.com/photos/stormgebrus/7577142254/in/photostream/