IvaniaIvânia Monteiro

Coordenadora Rede de Castelos e Muralhas do Mondego 

 

A criação da Rede de Castelos e Muralhas do Mondego em 2011 consubstanciou uma vontade conjunta de valorizar o património medieval, tangível e intangível, que fez parte ativa da Linha Defensiva do Mondego durante o período da reconquista cristã, designadamente após a reconquista de Coimbra em 1064.

O território vivia sob domínio muçulmano até à recuperação definitiva deste centro, um episódio capital no longo processo da definição de fronteiras, liderado por Fernando Magno. Moçárabe, Sesnando Davides herdou pelos seus serviços e conselhos estratégicos, o condado de Coimbra, tornando-se primeiro governador de um extenso território, facto que fomentou a criação de uma linha de fortificações, castelos e atalaias, que suportavam as investidas de sul ao agirem sob forma de guarda avançada de Coimbra.

A Linha foi continuada por D. Afonso Henriques e, ao seu serviço, reforçada por D. Gualdim Pais, o mestre Templário. A reconquista de Santarém e de Lisboa, em 1147, dita o fim da importância deste traçado militar, reposicionando a fronteira entre dois ideais mais a sul.

Esta história serviu de mote para a criação da Rede de Castelos e Muralhas do Mondego, hoje suportada pela existência de património físico constituído pelos Castelos da Lousã, de Penela, de Pombal, da Ega, de Soure e de Montemor-o-Velho, pela cerca muralhada e pelas Torres de Coimbra (de Almedina e de Anto), pelo Complexo Monumental de Santiago da Guarda, pela Torre de Miranda do Corvo e pela Torre e Fortaleza de Buarcos. Este episódio, durante séculos adormecido, é hoje reanimado por catorze entidades: os Municípios de Ansião, de Coimbra, de Condeixa-a-Nova, da Figueira da Foz, da Lousã, de Miranda do Corvo, de Montemor-o-Velho, de Penela, de Pombal e de Soure; a Direção Regional de Cultura do Centro, a Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal, o Instituto Pedro Nunes e a Universidade de Coimbra. Juntas, estas entidades procuram criar condições para dignificar a história e alavancar a partir do património um produto cultural e turístico de excelência, criando para tal em fevereiro de 2011 a Agência para o Desenvolvimento dos Castelos e Muralhas Medievais do Mondego.

Ao longo dos últimos anos a Agência, cofinanciada pelo Mais Centro (QREN, UE), lançou ações de capacitação do património em rede, procurando tornar a Linha Defensiva do Mondego num elemento de mais fácil interpretação e vivência. Por um lado, liderou o lançamento de iniciativas de comunicação e projeção, como os áudio-guias, a sinalética, os roteiros transversais, os produtos infantis ou os equipamentos virtuais nos monumentos. Por outro lado, enquanto marca agregadora do património medieval, trabalhámos a vertente do empreendedorismo cultural. Aliás, a importância da Rede decorre das oportunidades que pretendemos gerar no território. Pretende-se criar um produto diferenciado que contribua para a dinamização da base económica local e por isso desenvolvemos ações capazes de promover o apoio a investimentos na área da cultura (material e imaterial), através da identificação de fontes de financiamento, parcerias estratégicas, localizações possíveis para instalação, contactos e a possibilidade de integração em redes temáticas.

Preconizava-se o estímulo à oferta cultural relacionada com a Rede. Para tal desenvolvemos um Guia de Apoio e Incentivo ao Empreendedorismo Cultural, disponível no website www.empreendedorismocultural.pt, hoje uma ferramenta que permita ao potencial empreendedor valorizar o território pela importância económica que poderá ter, tomando conhecimento da diversidade e da riqueza do património e conhecendo exemplos de sucesso nas várias áreas culturais. A Agência dinamizou ainda workshops de empreendedorismo cultural. Foi exatamente no âmbito de um destes workshops temáticos que tivemos oportunidade de conhecer o projeto das boxes da “My own Portugal”. O workshop dedicado ao tema “Crafts” funcionou enquanto espaço de encontro e debate de ideias e soluções para esta iniciativa que acabou por se revelar potenciadora do território, ao hoje estarmos a concretizar uma parceria para o lançamento da box da “Linha Defensiva do Mondego”. Estes eventos criaram sobretudo oportunidades de encontro para as coisas acontecerem, prevendo-se que deles pudessem surgir projetos na área da cultura e turismo cultural com potencial de lançamento no mercado da Rede. A dinâmica da My Own Portugal enquadra-se na existência de criatividade e de capacidade de criação, premissas que na Rede acreditamos serem essenciais para gerar riqueza cultural, social e económica nos territórios. Por tudo isto, congratulamos os jovens empreendedores desta iniciativa, confiando e fazendo votos para que ela seja reconhecida como um produto de qualidade capaz de mobilizar gentes, sonhos e viagens pelo território da Rede de Castelos e Muralhas do Mondego!

Parta à Reconquista Connosco!